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Foto do escritorRicardo Cruz

Falta de competitividade ou de compromisso?

A primeira jornada da fase de grupos das competições europeias terminou e os resultados não foram os mais animadores. Duas derrotas e dois empates foi o registo das equipas portuguesas.

Tudo voltou a ser posto em causa. Será que a nossa liga é mesmo competitiva? Será que as equipas das outras ligas estão mais preparadas que as nossas?

Não creio que a questão da falta de competitividade esteja na génese destes maus resultados. Nunca poderemos competir de igual forma com ligas que têm muitas mais condições para altos investimentos. Isso tornará essas mesmas ligas cada vez mais competitivas, marcando uma maior diferença para as outras, como a nossa.

Mas as desculpas como a competitividade, ou falta dela, e a desigualdade de investimento não poderão servir mais como máscara para as más campanhas das equipas portuguesas. Temos um exemplo interno do FC Porto, que com o menor orçamento das 16 equipas que passaram a fase de grupos da edição passada da Liga dos Campeões, eliminou a Juventus e criou muitas dificuldades à equipa que viria a ser campeã da europa. “FC Porto foi quem nos criou mais dificuldades” – Disse Emerson Palmieri (campeão europeu pelo Chelsea), após a conquista da Liga dos Campeões. A falta de competitividade foi aqui posta em causa? Não. E porquê? Porque as coisas foram bem feitas e correram bem. E as coisas podem e devem correr bem mais vezes.

O FC Porto tem feito prestações históricas na maior prova de clubes da europa e do mundo. Neste momento é inequívoco dizer que os dragões são a equipa que melhor representa Portugal nas provas europeias. O rigor, o compromisso e a estratégia são as três palavras fundamentais para o sucesso dos dragões. Não fugiremos à realidade. O FC Porto não tem a mesma qualidade de plantel que têm as outras equipas do seu grupo, mas o que é certo é que na quarta-feira voltou a provar que isso se combate com muito rigor, com muito compromisso e com uma estratégia muito bem delineada. Os azuis e brancos não foram em nada inferiores ao Atlético de Madrid que tem um valor de plantel 3x superior ao da equipa de Sérgio Conceição. O mesmo aconteceu o ano passado frente a Juventus ou Chelsea. Haverá uma prova mais inequívoca que esta que é possível competir mesmo com as desigualdades evidentes?

Não foi por falta de competitividade que o Benfica empatou na Ucrânia ou que o Sporting foi esmagado em Alvalade. Não será que foi antes por falta de competência? Os encarnados dominaram o jogo na Ucrânia numa partida que era imperial vencer. Um Benfica muito competente na reação à perda da bola, mas sem grandes ideias na frente. Valeram os rasgos de Rafa. As substituições de Jorge Jesus vieram completamente em sentido contrário ao que o jogo pedia. Não havia espaços nas costas dos ucranianos para explorar a profundidade e as acelerações, mas Jorge Jesus lançou Radonjic e Darwin – que gostam de acelerar e procurar a profundidade – quando face ao jogo, o que era pedido eram jogadores com maior capacidade criativa que pudessem fazer a diferença a jogar em espaços reduzidos face ao bloco baixo e compacto da equipa de Kiev. O Benfica não venceu na Ucrânia por incompetência de Jorge Jesus, apenas isso.

O Sporting apanhou pela frente um super Ajax repleto de qualidade individual e com uma ideia coletiva bem forte que é característica do clube holandês. Mas, mais uma vez não foi por falta de competitividade que os leões foram cilindrados. O Ajax tem muito talento no 11, mas o 11 do Sporting não fica nada atrás e, em condições normais, este jogo deveria ter sido equilibrado, podendo qualquer uma das duas equipas ter vencido. Mas nunca por estes números. Rúben Amorim fiel ao seu sistema tático, nunca foi capaz de combater a superioridade numérica do Ajax, que com o espaço que os leões deixavam nas costas criava muito perigo. Isso nunca foi corrigido e os números acabam por não espantar, face aos comportamentos táticos que Rúben Amorim não soube mudar ou corrigir.

Não vamos ser hipócritas. Claro que existem ligas mais competitivas que a nossa, como a Premier League ou a Bundesliga. Existem diferenças brutais de orçamento e até mesmo de cultura desportiva, como as arbitragens, por exemplo. Mas já chega. Até quando isto servirá de desculpa para mascarar as más campanhas europeias das nossas equipas? Temos de fazer mais. Temos condições para fazer mais. Temos os melhores treinadores do mundo, alguns dos maiores talentos do mundo provenientes das nossas formações que são exemplo para todas as outras.

Já provamos que podemos fazer mais. É possível competir com qualquer equipa do mundo mesmo que pareça quase irrealista pensar que se pode fazê-lo. Com rigor, competência e estratégia estamos mais perto de o fazer, e o FC Porto tem provado isso.




Créditos: SIC Notícias

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